Cena de "A Rainha Nzinga Chegou" |
É um bocado estranho que um documentário tão
convencional quanto “A Rainha Nzinga Chegou” tenha sido escolhido para um
festival como Tiradentes. Ou nem tanto: apenas reforça o quanto esta edição tem
dado preferência à temática política em detrimento da inovação estética.
Dirigido por Junia Torres e Isabel Casimira
Gasparino, o filme acompanha um grupo mineiro de descendentes de escravos que
luta para preservar as tradições e cultura trazidas da África por ancestrais. A
líder da comunidade, denominada “rainha”, é a guardiã de todo o conhecimento e
a memória do que foi transmitido por seus antepassados. Já idosa, começa a se
preocupar em passar a coroa a outra pessoa capaz de tocar adiante o projeto de
preservação daquela cultura.
Com sua morte, quem assume é sua filha mais velha,
Isabel (codiretora do filme). Ela vai a Angola buscar um maior contato com suas
raízes e se certificar de que é mesmo capaz de ser a nova rainha.
A história é muito bonita, e enquanto material
etnográfico/documento de preservação cultural, o filme é de importância
inestimável. Cinematograficamente, porém, não tem grande pujança – muito embora
tenha pelo menos uma sequência brilhante, sobretudo se pensarmos em sua
extraordinária simplicidade (apenas uma questão de montagem precisa e movimento
de câmera perspicaz): a que revela a morte da rainha.
O filme tem outros momentos fortes, como quando a
nova rainha descobre ao lado do seu hotel em Angola um canteiro com um tipo de
planta cujas sementes são exatamente as mesmas que servem de material para a
confecção de sua coroa. Ou quando ela pisa nas marcas de pegadas de uma
antepassada e improvisa um canto alegre e emocionado. Ou ainda quando os
parentes distantes da África lhe confirmam que várias das tradições que sua mãe
lhe repassou são, de fato, muito semelhantes às que eles possuem em Angola.
Mas o filme já valeria nem que para observar o
rosto de Isabel em dois momentos: primeiro quando sua mãe, ainda viva, cogita
que será ela a nova rainha (e ali vemos em seu semblante o quanto ela estava
insegura sobre sua capacidade de ser a nova líder) e, depois, já na África,
após ter aceito o desafio e se encontrar com os antepassados (seu rosto muda
por completo: passa a esbanjar confiança e até a exibir uma aura mística
própria de uma liderança ciente de sua sina espiritual).
três palavras pra você: vai te catar
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