O elenco do adolescente "Leto [Summer]" |
Logo nos primeiros minutos, o espectador é apresentado ao
tipo de concertos de rock que a juventude russa do período podia frequentar: a
plateia tinha que permanecer sentada, no máximo mexendo um pouco as mãos e os
pés; se alguém se levantasse ou se exaltasse um pouco mais, seguranças surgiam
para conter os menos disciplinados. E antes de pisar no palco, obviamente os
músicos precisavam submeter suas canções ao aval da proprietária da casa de
show (durante o espetáculo, ela se encarregava de "explicar", sempre com muito
tato, as letras mais ousadas para algum censor de cara amarrada, que a qualquer
momento poderia cancelar o concerto).
Embora fale sobre o contraste entre o espírito de pessoas jovens
e uma sociedade altamente repressora, o foco de "Leto" é no amadurecimento
afetivo dos personagens. O centro do filme é a relação entre um roqueiro já
consagrado que apadrinha um músico promissor – o conflito se estabelece quando
o rapaz se interessa pela namorada do veterano (e é correspondido). Surge ali um
triângulo amoroso.
O filme tem números musicais vibrantes, embora nem sempre
exatamente bem lapidados. O primeiro deles é o melhor: surge de maneira
inusitada, em uma viagem de trem – os personagens começam a cantar "Psycho
Killer", dos Talking Heads, enquanto a polícia soviética espanca um dos jovens
de comportamento rebelde. O trecho regata a melhor tradição musical americana
do número escapista, porém a moderniza com intervenções de computação gráfica e
toda uma atitude que mescla irreverência punk e uma liberdade pós-anos 90. É o
ápice do filme.
Mas os números seguintes nunca causam o mesmo entusiasmo (um
deles, com "Perfect Day", de Lou Reed, que pretende falar da beleza das
coisas simples, é inserido na trama de forma desastrada e pouco refletida;
beira o constrangedor). E o filme, embora sempre cativante pelo espírito livre e
sonhador dos jovens protagonistas, não tem muito mais a oferecer ao longo da
projeção do que "carisma". Tem, também, algumas boas canções pop russas, mas elas serviriam melhor
como fundo sonoro para uma festa animada na casa de amigos; como as quase protagonistas que acabam se tornando (já que as personagens de
carne e osso não ganham um desenvolvimento substancial), porém, são incapazes de segurar
o filme.
Talvez os adolescentes se identifiquem em vários níveis com
o que verão na tela e o longa se torne de imediato um cult juvenil. O que seria
compreensível, já que é a eles que o material parece primordialmente destinado.
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