Jennifer Jason Leigh e Natalie Portman em "Aniquilação" |
Portentoso ensaio sobre mentes culpadas e instinto autodestrutivo,
"Aniquilação" é uma (quase sempre) eficiente ficção científica com
pretensões existencialistas. No nome original em inglês, Annihilation,
fica um pouco mais fácil perceber que a palavra-título tem o mesmo o radical (‘nihil’)
de ‘nihilism’ (niilismo), o que diz muito sobre o cerne deste segundo longa de
Alex Garland. Os personagens são todos meio assim, niilistas, sem grandes
pretensões ou expectativas e em busca de autoanulação. Embrenham-se em desafios como forma de
se punir por algum problema pessoal ("O ser humano está sempre se
destruindo", diz a psicóloga do longa, com ares metafísicos que seriam
mais apropriados a uma filósofa). Até os seres extraterrestres, embora sejam
uma alegoria dos humanos, não têm maiores ambições e estão meio perdidos na
Terra, apenas repetindo estruturas e comportamentos ao seu redor.
A trama gira em torno de uma expedição a um local isolado, mantido em segredo por suspeitas de estar dominado por forças sobrenaturais, talvez alienígenas. Mas como o roteiro é muito preocupado em ter alguma substância, para cada percalço fantasioso enfrentado no caminho, são recitadas ao menos umas três metáforas científicas sobre a condição humana – justificadas na trama pelo fato de a protagonista ser uma bióloga. Mas como ela precisa de uma hora para a outra bancar a heroína em perigosos desafios físicos, o script se encarregou também de torná-la também uma ex-soldado do Exército. Os autores (na verdade, apenas Garland é creditado como roteirista), como se percebe, fizeram o dever de casa nos (provavelmente vários) laboratórios de roteiro.
A trama gira em torno de uma expedição a um local isolado, mantido em segredo por suspeitas de estar dominado por forças sobrenaturais, talvez alienígenas. Mas como o roteiro é muito preocupado em ter alguma substância, para cada percalço fantasioso enfrentado no caminho, são recitadas ao menos umas três metáforas científicas sobre a condição humana – justificadas na trama pelo fato de a protagonista ser uma bióloga. Mas como ela precisa de uma hora para a outra bancar a heroína em perigosos desafios físicos, o script se encarregou também de torná-la também uma ex-soldado do Exército. Os autores (na verdade, apenas Garland é creditado como roteirista), como se percebe, fizeram o dever de casa nos (provavelmente vários) laboratórios de roteiro.
Os roteiristas são tão aplicados que, além de uma questão "profunda" sobre a humanidade, deram todo um ar de "calor do momento" ao filme ao optar por uma trama empoderadora de mulheres. Após repetidos fracassos de decifrar o que se passa no tal local isolado, equipes masculinas foram substituídas por um grupo de cinco mulheres (com representantes de diferentes etnias, idades e preferências sexuais) que, enfim!, conseguem desvendar o mistério.
As exigências identitárias modernas de representatividade
são o que de mais revolucionário aconteceu nas artes nos últimos cinco anos, e
é uma grande alegria que tenha sido assim. Para além da questão da representação em si, existe um certo frescor em ver um
grupo feminino enfrentando monstros e os percalços mais diversos em um ambiente
violento, e isso é muito bem-vindo. Mas há um efeito colateral meio
desagradável nisso tudo: há sempre uma artificialidade meio constrangedora nos
filmes que se dedicam com muito afinco a atender a todas as exigências
modernas; como sempre são calculados demais para não incorrerem em equívocos
que possam desagradar certos grupos, há uma terrível falta de espontaneidade na
maioria dessas produções. E como se "Aniquilação" já não parecesse suficientemente o
fruto de várias oficinas de roteiro, as questões empoderantes só agravam essa
sensação.
Menos mal, no entanto – ao menos a causa é boa. E é preciso
reconhecer que, em certos instantes, as mulheres de "Aniquilação"
formam um bom time. Sim: as atrizes menos conhecidas pegaram os papeis piores,
como sempre, mas as duas estrelas femininas justificam sua falas mais
trabalhadas. Natalie Portman (a bióloga/soldada - e praticamente uma
superheroína) tem a habilidade de se sair com a mesma desenvoltura tanto em
cenas intimistas quanto nas que envolvem dinamismo; ela se mostra a atriz ideal para o papel. E Jennifer Jason Leigh, como a psicóloga amalucada (mas
sempre seríssima) do bando, é muito engraçada quando, na expedição, pontua os resmungos das colegas com observações inusitadamente pragmáticas; ditas com
sua voz elástica e característica, as falas dão uma comicidade (provavelmente
involuntária) saudável ao filme, quando este começa a ficar depressivo demais
em meio a tanto "niilismo" imposto pelos script doctors.
Entre os homens, Oscar Isaac, como o marido de Portman dado
como morto que reaparece subitamente, surge poucas vezes na tela. Melhor
assim: o filme quase hiberna quando ele entra em cena. É um ator de recursos,
mas que precisa de um tipo específico de personagem para mostrar do que é
capaz. Ele sempre se sai bem em papeis ativos, dinâmicos, até próximos do
histriônico, que é quando pode usar sua energia e os olhos vivazes de uma
maneira proveitosa, eficiente. Mas quando precisa interpretar um sujeito
retraído ou moribundo (como no filme), o resultado pode beirar o desastre. (O
olhar "intenso" se converte em canastrice). Também nesse ponto, a
opção do filme por protagonistas mulheres foi um acerto.
Por fim, vale dizer que, em termos visuais, o longa custa um
pouco a se impor, mas termina bastante satisfatório. Enquanto as moças
desbravam a área tomada por ETs, a imaginação dos desenhistas de produção
parece meio tímida, sem ousadia. Só bem mais perto do fim, eles liberam realmente
a criatividade (embora a única parte de fato visualmente deslumbrante sejam os
créditos finais). Os efeitos especiais, ao contrário, são desde o início
impecáveis, mas talvez seja porque o filme só poderá ser visto em telas
reduzidas. E "Aniquilação", se apesar do esforço não traz exatamente
nenhum recado que vai a mudar a vida de ninguém, ao menos nos apresenta uma
verdade positiva sobre os filmes nascidos especificamente para o streaming:
na tela reduzida de computador, jamais vamos reparar nas falhas de efeitos
especiais que tantas vezes são gritantes quando assistimos a um filme na tela
grande.
Um muito bom filme que vale a pena ver. Natalie Portman é ótima. Adoro os filmes de ficção cientifica, são muito emocionantes! Li que iam lançar o filme Fahrenheit 451 e o tema não me interessou, mas um dia vi um trailer e fiquei intrigada. Além, ouvi dizer que o filme é baseado em um livro, nunca tinha escutado dele, mas li uma resenha e me chamou a atenção. Também tem um ótimo elenco, como Michael Shannon e Michael B. Jordan. Acho que será um dos melhores filmes em 2018, espero muito do filme, espero que seja umas das melhores adaptações para ver, não posso esperar para vê-la. Acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas.
ResponderExcluir