Lou de Laâge e Juliette Binoche, em cena de "A Espera" |
Dois
amigos meus viram "A Espera" em duas sessões distintas no Festival de
Veneza de 2015. Um deles disse que o filme recebeu vaias no fim; já o outro relatou que o longa foi efusivamente aplaudido. Eu assisti em uma terceira
sessão (aberta para o grande público), e a reação ao final foi
diferente das outras duas: de indiferença. Quer dizer, houve algumas palmas
bem fraquinhas, mais desvanecidas do que os aplausos protocolares habituais em eventos como Veneza,
mas dava para perceber facilmente que os espectadores estavam apenas tentando
ser educados (mas, ao menos, não se ouviu uma mísera vaia na minha sessão).
"A Espera" não é um
filme muito agradável, principalmente por causa do próprio tema que aborda: é
sobre uma mulher que perde o filho e começa a inventar mentiras para a sua nora
para preservá-la da novidade trágica. Mesmo que tenhamos pena da garota, o
tempo todo sabemos com clareza que ocultar a morte do namorado é inaceitável,
então é um tanto quando enervante ver a mãe o tempo todo contando mentiras
atrás de mentiras.
O filme pode até
não ser "agradável", mas é inquestionavelmente tocante; podemos discordar do
procedimento da mãe, mas compreendemos a necessidade daquela mulher de ficar
próxima de sua nora. Se ela a engana tanto, por fim não é mais para evitar que
a jovem sofra ao saber da morte do namorado. Afinal, ela vê ali a única conexão
viva com a memória do próprio filho.
A mãe é interpretada
por Juliette Binoche, e é um papel bem mais difícil do que pode parecer. É
incrível como a atriz parece não envelhecer – ela tem o mesmo rosto, as mesmas
rugas, de há uns 15 anos. É ainda hoje uma das mulheres mais bonitas do planeta,
mas agora não apenas isso: com os anos, também se tornou uma das maiores atrizes
da Terra. Aqui ela tem uma performance comovente, matizada ao extremo; não é só
uma mulher em luto pelo filho, mas é sobretudo alguém que se vê o tempo todo forçada a mentir.
Interpretar alguém mentindo não é algo simples – é preciso que o ator deixe claro para o espectador que não está falando a verdade, mas a forma de dizer a mentira precisa ser convincente aos olhos do personagem vivido pelo parceiro de cena. Qualquer excesso ou carência na hora da fala, qualquer erro gestual, qualquer movimento fora de instante pode arruinar a verossimilhança da cena. Mas a atuação de Binoche é de primeiríssima categoria; algo próximo ao perfeito. A lastimar apenas que sua colega, Lou de Laâge, não esteja no mesmo nível (ela não está exatamente mal; é apenas passável).
Interpretar alguém mentindo não é algo simples – é preciso que o ator deixe claro para o espectador que não está falando a verdade, mas a forma de dizer a mentira precisa ser convincente aos olhos do personagem vivido pelo parceiro de cena. Qualquer excesso ou carência na hora da fala, qualquer erro gestual, qualquer movimento fora de instante pode arruinar a verossimilhança da cena. Mas a atuação de Binoche é de primeiríssima categoria; algo próximo ao perfeito. A lastimar apenas que sua colega, Lou de Laâge, não esteja no mesmo nível (ela não está exatamente mal; é apenas passável).
"A Espera" é o longa de estreia de Piero Messina, que trabalhou como assistente de direção de Paolo
Sorrentino em filmes como "A Grande Beleza". Messina provavelmente aprendeu
bastante com o conterrâneo, mas pelo filme não dá para dizer quais exatamente foram as lições: os dois
têm sensibilidades e estilos bem distintos. Mas assim como Sorrentino, Messina tem
o dom de criar imagens expressivas, ainda que seu talento visual se manifeste
de maneira diferente – é uma beleza elegante, clássica.
Mas o diretor de primeira viagem ainda tem muito o que aprender em termos de ritmo – "A Espera" é bem lento e deixa o espectador entediado de quando em quando. Eu não tenho a menor ideia de que outra forma um filme como esse poderia ser conduzido, mas eu estou certo de que deve haver possibilidades mais dinâmicas de direção.
Mas o diretor de primeira viagem ainda tem muito o que aprender em termos de ritmo – "A Espera" é bem lento e deixa o espectador entediado de quando em quando. Eu não tenho a menor ideia de que outra forma um filme como esse poderia ser conduzido, mas eu estou certo de que deve haver possibilidades mais dinâmicas de direção.
Para um primeiro
filme, porém, é um trabalho notável – ainda que não o suficiente para que eu
compreenda os aplausos fortes que um dos meus amigos diz ter ouvido em Veneza.
E, menos ainda, as vaias que o outro jura ter escutado. Nesse caso, acredito
que vou ter que concordar com os espectadores que viram o filme na mesma sessão que eu no Festival: respeitosos, porém não muito
empolgados.
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