Creed - Nascido para Lutar
(Creed, 2015), de Ryan Coogler
Sylvester Stallone, mais uma vez, dá vida a Rocky Balboa, agora um dono de restaurante italiano que é chamado pelo filho de seu rival no passado para treiná-lo. Os temas dos outros filmes (a busca pelo reconhecimento, a superação pessoal, a doença como limitadora) são descaradamente requentados aqui, e a fórmula mostra enorme esgotamento. Para piorar, o protagonista, Michael B. Jordan, não tem tanto apelo como Stallone tinha nos anos 70; é um filme bem fraco. Mas eis que o velho Sly surge em uma de suas melhores performances da carreira (o que, por si só, não quer dizer grandes coisas). Stallone sempre teve as expressões no rosto limitadas por uma paralisia facial, e agora, com tantos procedimentos de preenchimento e de botox, a situação se agravou; ele mal consegue abrir a boca. Mas talvez este seja o segredo da sua ótima atuação: ele nunca exagera.
-----
Steve Jobs
(Idem, 2015), de Danny Boyle
A câmera não para quieta, os atores se movimentam incessantemente, a montagem é peculiarmente ágil... e no entanto, poucos filmes sugerem tanto teatro filmado como “Steve Jobs”. A estrutura do roteiro é em três atos, em momentos distintos da vida do empresário, sempre antes de palestras televisionadas. O primeiro funciona bem, mas o gosto de novidade se perde nos demais - o filme parece dar voltas e não sair do lugar. Nos bastidores, o Jobs do filme se revela um ser humano quase insuportável – se o longa tem um grande acerto é não cair na armadilha de tornar o protagonista esse Deus que tantas pessoas o consideram (triste do povo que trata um empresário com a mesma idolatria que só os grandes artistas e heróis costumam receber...). O Steve Jobs real tinha presença de palco e carisma; Michael Fassbender também tem as duas coisas e ainda algo que Jobs nem passava perto de ter: sensualidade – ele acrescenta ao personagem um tipo de magnetismo animalesco, de concomitante repulsa/atração (seu Jobs é mais rico e ainda melhor que o verdadeiro). Na pele de sua fiel assistente, Kate Winslet está como sempre: ótima. E não se pode também esquecer da performance de Jeff Daniels, bom ator, lastimavelmente subaproveitado e subvalorizado em Hollywood.
------
Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, o Filme
(The Peanuts Movie, 2015), de Steve Martino
Snoopy e Charlie: animação à moda antiga |
Infelizmente, parece não haver mais espaço no mundo para filmes assumidamente infantis, como este encantador desenho protagonizado pelo cãozinho Snoopy, o pássaro Woodstock e o atrapalhado Charlie Brown. A história gira em torno de uma nova aluna no colégio, que desperta a paixão de Charlie - e também todo o seu desajeito. O filme é uma ilustração de como a vida no colégio pode ser infernal para as crianças mais introvertidas. Mas nunca há drama prolongado ou em exagero; os criadores não querem o sofrimento do público. Há, sim, ternura sendo exalada por todos os fotogramas e belas lições de solidariedade - é um filme simplíssimo, e ainda assim (ou talvez por isso) adorável. É uma animação bizarramente fora de época - a não ser pela técnica de animação, poderia ser um filme de umas quatro décadas atrás. Mas algumas coisas não mudam nunca, e este Snoopy é o exemplo disso. O filme é muito mais honesto que as animações ultrainformativas modernas, calculadas milimetricamente para agradar tanto a crianças como adultos, no estilo "DivertidaMente" (que de adultas, mesmo, só têm a vontade).
Nenhum comentário:
Postar um comentário