(The Big Short, 2015), de Adam McKay
Christian Bale é um ator especial. É o tipo de intérprete criativo, que nunca entrega uma performance banal – uns 50 atores eficientes poderiam ter bons resultados vivendo um mesmo personagem que ele, mas Bale sempre busca ir além, fazer algo diferente mesmo quando o papel a priori não permite nada de muito inovador. Em "A Grande Aposta", ele interpreta um investidor que previu o colapso no setor imobiliário americano em 2008 – e soube faturar em cima da própria capacidade de visão. Mas mais que um visionário, ele é acima de tudo um sujeito excêntrico, que passa grande parte do tempo ouvindo heavy metal, simulando tocar bateria, e que vai trabalhar usando camisetas puídas (em um ambiente em que os colegas são engravatados e cheios de cerimônia). Para completar, ainda tem um estranho olho de vidro – as pessoas riem de sua figura onde quer que vá.
Christian Bale em "A Grande Aposta" |
Christian Bale é um ator especial. É o tipo de intérprete criativo, que nunca entrega uma performance banal – uns 50 atores eficientes poderiam ter bons resultados vivendo um mesmo personagem que ele, mas Bale sempre busca ir além, fazer algo diferente mesmo quando o papel a priori não permite nada de muito inovador. Em "A Grande Aposta", ele interpreta um investidor que previu o colapso no setor imobiliário americano em 2008 – e soube faturar em cima da própria capacidade de visão. Mas mais que um visionário, ele é acima de tudo um sujeito excêntrico, que passa grande parte do tempo ouvindo heavy metal, simulando tocar bateria, e que vai trabalhar usando camisetas puídas (em um ambiente em que os colegas são engravatados e cheios de cerimônia). Para completar, ainda tem um estranho olho de vidro – as pessoas riem de sua figura onde quer que vá.
Bale demonstra grande disposição e disponibilidade para
criar seu personagem – a ponto de, às vezes, dar a impressão de que talvez queira
superar tudo o que ele mesmo já fez em termos de inventividade em filmes anteriores. Mas definitivamente não era ocasião para isso. Ele atua como se seu
personagem tivesse uma interioridade complexa, uma profundidade riquíssima e
interessantíssima a ser explorada. Mas quando o observamos em cena, percebemos
que ele está visivelmente criando em cima de uma enorme abstração – ou, o que é
pior: em cima de um gigantesco vazio; esse personagem que Bale quer a todo custo
"compor" simplesmente inexiste.
Por estilo, "A Grande Aposta" de fato exigia um
certo exagero nas atuações – é uma comédia algo rasgada sobre o mundo das
finanças. Mas Bale seguiu um caminho que visivelmente destoa do resto do elenco
– que, em geral, opta por um tom mais farsesco. Muita gente pode achar que é
uma performance "melhor" que as demais, mas desta vez a composição de Bale é
fruto de um grande erro de approach do personagem: é puro overacting.
"A Grande Aposta" explica em detalhes o que
aconteceu na economia americana em 2008, quando só alguns poucos investidores
espertos perceberam que a boa fase do setor imobiliário nos EUA estava com os
dias contados; em breve, entraria em crise. Como é um filme voltado para
o grande público, obviamente os roteiristas (McKay e Charles Randolph) sabiam
que precisariam adotar um tom didático, quase que destinado a dummies para
detalhar questões que o puro e simples "economês" dificilmente
conseguiria.
De fato, "A Grande Aposta" seria um filme
inconcebível se não fosse esse esforço hercúleo por parte da equipe de tornar
tudo amaciado, palatável. Toda a pirotecnia visual e os truques espertinhos e
criativos para manter a narrativa com fôlego do início ao fim tem funcionado
com grande parte do público – o longa tem feito um inusitado sucesso comercial.
Como em uma espécie de milagre, o diretor tem conseguido não só explicar em
detalhes um assunto impopular como também tem mostrado que um meio
aparentemente tedioso como o das finanças pode ser fascinante.
Minha opinião pessoal? Levando em conta que o estilo
engraçadinho de McKay não é exatamente algo que me agrade e que tampouco a bolha imobiliária seja um tema que me desperte a atenção, é até de
admirar que eu tenha chegado ao fim do filme ainda com algum interesse. Mas
muito pouco – os excessos narrativos me deixaram um tanto exausto, e o
didatismo de McKay funcionou só parcialmente comigo: em vez de compartilhar da
visão do diretor de que o imprevisível universo das finanças é apaixonante e
cheio de empolgação, eu continuo achando esse meio completamente
anticinematográfico. E, além de moralmente repulsivo, chato de doer... O
milagre de McKay, como se percebe, não acontece para todos.
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