Brad Pitt e Angelina Jolie Pitt |
A energia de Angelina Jolie é algo admirável. Entre filmes (ruins) como atriz, a luta por causas humanitárias e viagens ao Terceiro Mundo atrás de um novo filho adotivo, ela ainda arranja tempo para ser cineasta. E não faz qualquer tipo de filme, não: entrega-se a projetos ambiciosos, esteticamente arrojados, bem-cuidados.
A trama marca o reencontro nas telas entre ela e o marido Brad, o senhor e a senhora Smith que, há dez anos, se encontraram em um set e jamais se separaram. A dupla se apaixonou e virou o casal mais invejado e poderoso de Hollywood, posto que jamais foi ameaçado desde então.
Mas “Sr. e Sra. Smith” era uma comédia de ação, e “À Beira
Mar” é quase inanimado e não tem o menor humor. Mostra um casal em crise, que
viaja a uma cidade litorânea para reavivar o relacionamento. Brad é um escritor
beberrão com bloqueio criativo, e Angelina é sua mulher depressiva, que abusa
dos remédios para dormir para esquecer um trauma do passado. No hotel, a dupla
só começa a se entender quando passa a observar por um buraco na parede o
comportamento de um jovem casal no quarto ao lado (Mélanie Laurent e Melvil
Poupaud), com o qual vai se envolver em estranhos jogos sexuais.
A época parece ser fim dos anos 60, talvez
começo dos 70. O local, tudo indica, é algum balneário da França mediterrânea,
embora as filmagens tenham sido feitas na ilha de Malta. Visualmente, o filme é
acachapante – e seria difícil que não fosse, já que as locações são
paradisíacas, e quando a câmera não se debruça sobre elas, foca em Angelina ou
em Brad, que talvez hoje estejam ainda mais belos que há uma década. Mas a
beleza do filme não vem tanto assim dos objetos filmados: é obra da direção de
fotografia de Christian Berger, em iluminação suave e em tons claros, com predominância
do branco e variações de bege – menos o mar, desavergonhadamente azul, entre o
turquesa e o petróleo. São imagens lindas, por certo, mas de uma impessoalidade
desconcertante – têm uma beleza fria, pasteurizada e pouco natural. Os atores estão
sempre fazendo poses e/ou com a cara amarrada – com as falas abafadas, o filme poderia passar por um vídeo
publicitário conceitual sobre o tédio, produzido por alguma grife fashion.
Não é um filme sem alma, no entanto. Mas é um longa de espírito confuso, que não
se decide entre o “ennui” burguês ao estilo de Antonioni, a perversidade aos
moldes de “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” ou a paixão intensa à la Wong Kar Wai. Jolie é uma cineasta de talento – fica claro que ela tem cultura
cinematográfica e instinto visual. O problema é que as intenções dela não
caminham no mesmo rumo que seu estilo: talvez fossem sérias demais para onde sua
afetação enquanto cineasta a conduz. Ela dirige tudo com um bom gosto tão
acentuado e com tanta classe que, chega um ponto, isso começa a agir contra o filme. A agonia estetizada começa a ficar pesada e equivocadamente pedante - e um tanto cafona. O filme não chega a ser camp, mas seria melhor se fosse; assim, ao menos, seria divertido.
Não é; é tedioso. Jolie passa o filme quase todo enfurnada em seu quarto de hotel, narcotizada por remédios, mas sempre com o rosto impecavelmente desinchado e as roupas de seda sem um mínimo vinco. A intenção era transmitir a ideia de que a depressão pode atingir mesmo a mais deslumbrante das mulheres, mas por muito pouco o filme não incorre no extremo oposto: o da glamourização do sofrimento. Só escapa a essa armadilha porque a fragilidade de Jolie chama mais a atenção que seu glamour. Ela sequer atua; tem basicamente o mesmo semblante, e nas cenas em que precisa se alterar, enlouquecer, não tem vigor o suficiente para isso. Até combina com a personagem, mas essa apatia é claramente algo involuntário, fruto de uma incapacidade; Jolie de fato precisa de descanso. Pitt, por outro lado, está excelente - com os anos, seu rosto ganhou nuances que antes ele não tinha. Ele consegue hoje uma intensidade que o Russell Crowe de 15 anos atrás conseguia, e isso é tudo o que um ator poderia desejar. Mas o personagem dele tem limitações, não escapa muito do clichê do escritor frustrado e alcoólatra.
O filme inteiro, aliás, embora tenha elementos de complexidade, nunca os explora como deveria; termina frustrantemente banal. A ideia de se ter a dupla mais bela do planeta sem interesse mútuo, mais empenhada em observar o casal do quarto ao lado, é o que o filme tem de mais instigante. Mas parece daquelas ideias melhores no papel do que na tela - Jolie não consegue extrair dessa situação o humor e o mistério que ela potencialmente possui; tudo funciona com resultados apenas moderados (por vários momentos, o público se pega pensando que seria melhor que o casal protagonista fosse o vizinho). O filme se arrasta por muitos minutos a mais do que deveria, mas não chega a ser um suplício de assistir, muito possivelmente pelo charme dos quatro atores. Como diretora, Jolie não é um caso perdido, de modo algum. Mas precisa alinhavar um pouco melhor o modo como fará transição de seus roteiros para a tela. E, de preferência, poupando-se de aparecer nela.
Não é; é tedioso. Jolie passa o filme quase todo enfurnada em seu quarto de hotel, narcotizada por remédios, mas sempre com o rosto impecavelmente desinchado e as roupas de seda sem um mínimo vinco. A intenção era transmitir a ideia de que a depressão pode atingir mesmo a mais deslumbrante das mulheres, mas por muito pouco o filme não incorre no extremo oposto: o da glamourização do sofrimento. Só escapa a essa armadilha porque a fragilidade de Jolie chama mais a atenção que seu glamour. Ela sequer atua; tem basicamente o mesmo semblante, e nas cenas em que precisa se alterar, enlouquecer, não tem vigor o suficiente para isso. Até combina com a personagem, mas essa apatia é claramente algo involuntário, fruto de uma incapacidade; Jolie de fato precisa de descanso. Pitt, por outro lado, está excelente - com os anos, seu rosto ganhou nuances que antes ele não tinha. Ele consegue hoje uma intensidade que o Russell Crowe de 15 anos atrás conseguia, e isso é tudo o que um ator poderia desejar. Mas o personagem dele tem limitações, não escapa muito do clichê do escritor frustrado e alcoólatra.
O filme inteiro, aliás, embora tenha elementos de complexidade, nunca os explora como deveria; termina frustrantemente banal. A ideia de se ter a dupla mais bela do planeta sem interesse mútuo, mais empenhada em observar o casal do quarto ao lado, é o que o filme tem de mais instigante. Mas parece daquelas ideias melhores no papel do que na tela - Jolie não consegue extrair dessa situação o humor e o mistério que ela potencialmente possui; tudo funciona com resultados apenas moderados (por vários momentos, o público se pega pensando que seria melhor que o casal protagonista fosse o vizinho). O filme se arrasta por muitos minutos a mais do que deveria, mas não chega a ser um suplício de assistir, muito possivelmente pelo charme dos quatro atores. Como diretora, Jolie não é um caso perdido, de modo algum. Mas precisa alinhavar um pouco melhor o modo como fará transição de seus roteiros para a tela. E, de preferência, poupando-se de aparecer nela.
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