quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Crítica: "Mistress America"

(idem, 2015), de Noah Baumbach


Greta Gerwig e Lola Kirke em "Mistress America"


A esta altura da carreira, já era para Greta Gerwig ter se tornado uma estrela, de fato. Porque ela possui todos os predicados para isso: é bonita, talentosa e tem uma presença sempre imponente, apesar de leve, agradável. Já não está apenas no cinema indie e levou consigo ao mainstream seu jeitão “gente como a gente”, que é tudo o que o público atual mais espera de uma atriz (Jennifer Lawrence é a prova maior disso). E quando ela interpreta uma personagem bem nesse estilo, como em “Mistress America”, deveria garantir a adesão sumária do público.

Mas Greta talvez seja o tipo de atriz que intelectualiza demais as próprias performances. Ela sabe que seu charme de mulher comum, com uma leve propensão ao “gauche”, é o seu forte, então investe todas as suas fichas em reiterar essa qualidade em si própria. Em “Mistress America”, sua personagem é a súmula do modus operandi de Greta enquanto atriz: ela gesticula atabalhoadamente, conversa com a voz pouco modulada, faz caretas e desvia o olhar durante os diálogos – bem do jeito que eu, você e todo mundo fazemos na vida real.

Mas a maneira de Greta parecer “natural” em cena é tão pré-calculada que não há um ser vivo na plateia que se deixe enganar; o público sabe que ela é uma atriz “atuando” de forma a ser uma mulher comum – por mais que, provavelmente, a Greta da vida real seja muito parecida com a imagem que ela quer transmitir. Ela seria imbatível caso, diante da câmera, se contentasse em simplesmente “ser natural”, mas Greta prefere sublinhar o tempo todo que “está sendo natural”; chama a atenção para a própria performance nos momentos em que menos deveria fazer isso. Olhá-la em cena é o tempo todo ficar em dúvida se ela é acima de tudo uma mulher adorável de se observar ou uma atriz constrangedora de se ver.

Menos mal que ela não é a protagonista de “Mistress America”, embora seja o centro de gravidade do filme. A personagem principal, a rigor, é a de Lola Kirke, que interpreta Tracy, uma jovem aspirante a escritora sem muito talento para fazer amigos na faculdade. Ao conhecer sua futura meia-irmã (o pai de uma vai se casar com a mãe da outra), Brooke (Gerwig), ela se encanta com o estilo de vida autônomo e desabusado da moça, escrevendo em segredo histórias inspiradas em coisas que ela faz e diz.

Baumbach tem fama de ser um dos melhores roteiristas de Hollywood, mas embora eu goste bastante do script de “A Lula e a Baleia”, não vejo nada de exatamente genial nas coisas que ele escreve. Ainda assim, seus roteiros são melhores que seu trabalho como diretor, que costuma ser um tanto genérico; Baumbach parece ainda a procura de um estilo próprio. Enquanto não descobre, tenta um pouco de Wes Anderson aqui, um muito de Woody Allen acolá, e mais toques de todo o cinema independente americano dos últimos 20 anos por todo o filme. Consegue uma obra com algum equilíbrio, mas nunca regular ou plenamente satisfatória.

Ainda assim, o filme tem um certo charme e é, na maior parte do tempo, aprazível. É melhor do que “Frances Ha”, seu longa mais conhecido, porque é menos afetado e não tem a mesma urgência de ser “adorável” ou “cool”. “Mistress America” também ambiciona esses dois atributos, mas de maneira bem mais relaxada. No fundo, parece uma grande desculpa para uma única e simples coisa: filmar Greta Gerwig. É o típico filme que um homem apaixonado concebe pra sua musa/companheira. No caso, em coautoria com ela – Baumbach e Gerwig assinam o roteiro. O que o filme tem de melhor, de mais autêntico, é exatamente essa admiração pela atriz/personagem – é uma pena que o cineasta não consiga encontrar uma forma mais depurada de escoar cinematograficamente essa paixão. Mas ele que não se sinta culpado por isso – afinal, tampouco sua egéria é capaz de criar uma personagem verdadeiramente apaixonante.




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