Documentário sobre o "Putsch de Moscou", uma tentativa frustrada de golpe de estado
na Rússia, em 1991, quando o presidente Mikhail Gorbatchev estava fora do país
e líderes comunistas queriam a volta de um estado soviético nos moldes rígidos pré-década de 80. O longa é todo feito com imagens da época, registradas por
anônimos, nas ruas de Leningrado (foram achadas nos arquivos soviéticos).
O
bielorrusso Sergei Loznitsa evita uma narração em off, mas monta o material de forma que seu filme tenha um leve
aspecto jornalístico: há uma preocupação didática, revelada nos discursos de
lideranças políticas e diversas emissões radiofônicas que surgem em áudio. Mas o
principal valor do filme, como em alguns docs e curtas anteriores de Loznitsa,
é a observação sócio-antropológica do povo russo naquele momento histórico.
Observamos as pessoas confusas, tensas (em meio a boatos e palpites desencontrados),
porém sem a feição muito pesada; havia algo de excitante e esperançoso naquele momento histórico,
em que o país se despedia do pesadelo de uma ditadura comunista e sonhava com
a entrada no mundo capitalista. As vestes e cabelos da população já eram muito
parecidas com a do Ocidente; a União Soviética já estava no fim, faltava apenas
delinear como seria a nova Rússia.
As imagens são em preto-e-branco e, em geral, têm boa qualidade
de iluminação e enquadramento; certamente não foram feitas por amadores. A
edição é perspicaz e procura claramente mostrar o poder da pressão popular
sobre decisões históricas – eu suponho que a intenção do filme seja estimular
as novas gerações a também se manifestarem nas ruas diante de questões com as
quais não concordam, inclusive as do atual governo de Vladimir Putin (que, de
uma certa forma, reúne o pior dos dois polos da época da Guerra Fria: tende ao
totalitarismo dos comunistas e à insensibilidade social dos capitalistas).
O filme é dividido em episódios diferentes – Loznitsa os une
com pequenos trechos de tela negra, com acordes de “O Lago dos Cisnes”. É o grande pecado do filme: a opção soa um tanto piegas, como se o diretor
quisesse solenizar as imagens por meio do acompanhamento musical (e ademais, me parece meio forçado traçar qualquer paralelo entre a trama do balé musicado por
Tchaikovsky com as questões por que passava a Rússia daquele momento). Mas se não figura entre os melhores do cineasta, é um documentário de grande interesse.
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