terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mostra 2015 - Crítica: "Beira-Mar"

(Brasil, 2015), de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon



Foi-se o tempo em que falar sobre a descoberta do amor gay era algo que o cinema preferia evitar. Muito pelo contrário: hoje em dia, já virou quase que um gênero isolado. Um filme sobre o tema que não tenha algum diferencial na abordagem do assunto corre o risco de parecer dolorosamente sem imaginação; ou então (o que é pior) o de cair no clichê dos filmes abertamente segmentados – essas obras descartáveis que pululam em festivais LGBT feitas exclusivamente para agradar uma certa parcela menos exigente dos frequentadores desses eventos.

“Beira-Mar” tenta trazer um “algo a mais” na narrativa da história de dois amigos adolescentes que fazem uma viagem de caráter iniciático e descobrem, ali, o amor e o sexo. Os diretores gaúchos Filipe Matzembacher e Márcio Reolon inserem uma questão transversal ao tema da sexualidade, mostrando um dos garotos às voltas com um problema familiar (seu avô morreu, e cabe a ele procurar a avó no lugar do pai, que não se dá bem com os parentes).

Os diretores evitam a ação, preferem investir na atmosfera do filme. Há muitos silêncios e diálogos que, em termos dramáticos, não levam a nada. Criam, assim, uma certa expectativa no público de quando a descoberta do sexo vai de fato acontecer – mas isso é o máximo que os diretores conseguem. De “atmosfera”, mesmo, não há nada - apenas uma enorme bolha de ar; o filme nunca “acontece”. Só bem no fim, quando os cineastas finalmente abordam o tema de frente, há algo de erótico no filme, mas é uma exploração da sexualidade um tanto banal, naquele mesmo nível dos filmes-segmentados-de-festivais-LGBT. Com o agravante de ser pasteurizado ao extremo - e um bocado mais monótono.

Matzembacher e Reolon parecem achar que o simples charme e meiguice de seus protagonistas é o suficiente para eles tocarem o filme adiante. Até funciona, mas não por muito tempo – em algumas cenas decisivas, falta intensidade dramática aos jovens atores (que não são ruins, apenas mal orientados).

O maior problema do filme, porém, é outro: por que insiste tanto no recurso de “câmera na mão”? Os diretores estão claramente em busca de um estilo, mas não há uma justificativa estética para que as imagens sejam tão tremidas. Mesmo as cenas mais clichê, do tipo “olhar para o mar e pensar na vida e no que o futuro trará”, são mais autênticas que essa tentativa de tornar o filme esteticamente desafiador. “Beira-Mar” é um filme sensível e, por vezes, até bonito. Mas é muito mais convencional que seus diretores talvez julguem que seja.

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