Foi-se o tempo em que falar sobre a descoberta do amor gay era algo que o cinema preferia evitar. Muito pelo contrário: hoje em dia, já virou
quase que um gênero isolado. Um filme sobre o tema que não tenha algum
diferencial na abordagem do assunto corre o risco de parecer dolorosamente sem
imaginação; ou então (o que é pior) o de cair no clichê dos filmes abertamente segmentados –
essas obras descartáveis que pululam em festivais LGBT feitas exclusivamente
para agradar uma certa parcela menos exigente dos frequentadores desses eventos.
“Beira-Mar” tenta trazer um “algo a mais” na narrativa da história de dois amigos adolescentes que fazem uma viagem de caráter iniciático e descobrem, ali, o amor e o sexo. Os
diretores gaúchos Filipe Matzembacher e Márcio Reolon inserem uma questão
transversal ao tema da sexualidade, mostrando um dos garotos às voltas com um problema familiar (seu avô morreu, e cabe a ele procurar a avó no lugar do pai,
que não se dá bem com os parentes).
Os diretores evitam a ação, preferem investir na atmosfera
do filme. Há muitos silêncios e diálogos que, em termos dramáticos, não levam a
nada. Criam, assim, uma certa expectativa no público de quando a descoberta do sexo
vai de fato acontecer – mas isso é o máximo que os diretores conseguem. De “atmosfera”,
mesmo, não há nada - apenas uma enorme bolha de ar; o filme nunca “acontece”.
Só bem no fim, quando os cineastas finalmente abordam o tema de frente, há algo
de erótico no filme, mas é uma exploração da sexualidade um tanto banal, naquele
mesmo nível dos filmes-segmentados-de-festivais-LGBT. Com o agravante de ser pasteurizado ao extremo - e um bocado mais monótono.
Matzembacher e Reolon parecem achar que o simples charme e
meiguice de seus protagonistas é o suficiente para eles tocarem o filme
adiante. Até funciona, mas não por muito tempo – em algumas cenas decisivas,
falta intensidade dramática aos jovens atores (que não são ruins, apenas mal
orientados).
O maior problema do filme, porém, é outro: por que insiste
tanto no recurso de “câmera na mão”? Os diretores estão claramente em busca de
um estilo, mas não há uma justificativa estética para que as imagens sejam tão
tremidas. Mesmo as cenas mais clichê, do tipo “olhar para o mar e pensar na
vida e no que o futuro trará”, são mais autênticas que essa tentativa de tornar
o filme esteticamente desafiador. “Beira-Mar” é um filme sensível e, por vezes, até bonito. Mas é muito mais convencional que seus diretores talvez
julguem que seja.
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